3. As instituições acreditadoras credenciadas

Difusão Brasil afora

Recém-criada, a ONA começou a atuar de um escritório em Brasília (DF). Formada por um Conselho de Administração composto por diferentes entidades do setor de saúde e alguns poucos funcionários responsáveis pelo dia a dia da operação, a entidade tinha um grande desafio pela frente: levar a cultura da qualidade ao conjunto das instituições de saúde do País.

Para isso, a organização contou com o trabalho fundamental das Instituições Acreditadoras Credenciadas (IACs), responsáveis por oferecer capilaridade necessária à expansão do sistema e, ao mesmo tempo, promover e executar de forma eficiente a metodologia do Sistema Brasileiro de Acreditação (SBA).

“Uma única organização, em um País com dimensões continentais como o nosso, não teria condições de fazer avaliação no grande número de organizações existentes. Temos no Brasil quase 7 mil hospitais, 12 mil laboratórios, entre tantas outras organizações de saúde”, analisa Péricles Góes da Cruz, superintendente técnico da ONA. “Com essa premissa, foi estabelecida pela ONA a criação de Instituições Acreditadoras Credenciadas (IACs)”, completa.

Desde o começo, as IACs têm funcionado como a representação da ONA no setor de saúde. São elas as responsáveis pelo diagnóstico, pela execução das tarefas, por aferir e certificar as instituições conforme as diretrizes do SBA, por capacitar os avaliadores que realizam o trabalho em campo.

O relacionamento é uma via de mão dupla, pois são as IACs que reportam à ONA o que está acontecendo no mercado, com sugestões para a evolução do sistema. “Elas têm responsabilidade mercadológica na busca pelo cliente e na identificação de novos nichos de acreditação”, analisa Maria Carolina Moreno, que atuou de 2011 a 2016 na ONA exercendo os cargos de Relações Institucionais e superintendente. Partiram das IACs, por exemplo, as ideias de trabalhar metodologias como a de pronto atendimento e atenção domiciliar.

Parceiros de longa data

Logo nos anos 2000, a ONA começou a credenciar as certificadoras. As pioneiras foram: Fundação Carlos Alberto Vanzolini, Instituto de Administração Hospitalar e Ciências da Saúde (IAHCS), Instituto de Planejamento e Pesquisa para Acreditação em Serviços de Saúde (IPASS), Det Norske Veritas Germanischer Lloyds (DNV/GL) e o então Instituto Qualisa de Gestão, hoje IQG Health Services Accreditation, que estão com a ONA até hoje.

Algumas dessas certificadoras foram compostas pelos profissionais dos grupos regionais sobre qualidade e acreditação que surgiram no País durante os anos 1990 e foram reunidos, posteriormente, pelo Ministério da Saúde com o objetivo de elaborar o sistema de acreditação nacional.

Esse é o caso do IPASS, no Paraná, organização sem fins lucrativos formada por conselhos, associações e autarquias, que foi a primeira certificadora credenciada pela ONA. “O grupo que formava o IPASS participou ativamente da formação da ONA”, comenta Fábio Motta, vice-presidente do instituto. O instituto é responsável pelo certificado nº 1 da ONA, quando chancelou os processos de qualidade do Hospital Antônio Prudente, localizado em Fortaleza (CE), como ONA nível 1, no dia 1o de fevereiro de 2001.

Outro exemplo é o IAHCS, no Rio Grande do Sul, que ainda nos anos 1990 editou uma das primeiras publicações acerca do tema, o livro “Acreditação Hospitalar, proteção dos usuários, dos profissionais e das instituições de saúde”, de autoria de Antonio Quinto Neto e Fábio Leite Gastal, que participaram ativamente do grupo de estudo sobre o tema em Porto Alegre na época. Para se ter uma ideia, a equipe do IAHCS, antes da existência da ONA, chegou a avaliar 15 hospitais e certificou cinco deles com o Selo Qualidade RS, em 1998, de acordo com o Programa Gaúcho de Qualidade e Produtividade.

“Era uma conjugação entre o Prêmio Nacional da qualidade e acreditação. Nós fizemos a união desses dois pontos, juntamos esses dois sistemas”, recorda Sérgio Ruffini, atual coordenador do IAHCS, que na época já atuava como professor do Instituto e participou ativamente dos estudos do grupo local.

Assim, quando a ONA é fundada, o IAHCS se credencia como certificadora, conforme atesta o site do instituto:

Com o advento da ONA e sua criação oficial em 1999, o núcleo original deste projeto ganhou autonomia, passando a se chamar Instituto de Acreditação Hospitalar e Certificação em Saúde – IAHCS, passando a colaborar diretamente na criação do Sistema Brasileiro de Acreditação.¹

O PRIMEIRO ESCRITÓRIO DA ONA: estava localizado em Brasília.

AS PRIMEIRAS INSTITUIÇÕES ACREDITADORAS: tiveram seus certificados entregues pelo então ministro da Saúde, José Serra.

A Fundação Vanzolini, de São Paulo, sempre trabalhou em diferentes setores e, na saúde, realizava projetos pontuais e consultorias relacionadas à certificação ISO 9001 e 14001 – trabalho que permanece até hoje. Em uma palestra, em 1999, Osnir Simonatto, auditor da Vanzolini na época, conheceu Gastal, então superintendente da ONA, e eles começaram a compartilhar conhecimento sobre área de certificação.

“A ONA estava em um processo de desenvolvimento do primeiro manual, mas não tinha desenvolvido as regras para o processo de acreditação propriamente dito, ou seja, as regras de avaliação e gerenciamento de uma certificação nova”, recorda Simonatto, que trabalhou 18 anos na Vanzolini como certificador ONA.

A DNV/GL, assim como a Vanzolini, atua nos mais diferentes setores da economia. Seu trabalho no setor de saúde brasileiro começou com a certificação dos laboratórios Hermes Pardini e Fleury pela ISO 9001, em 1998. Luiz Carlos Marzano, instrutor da DNV/GL Academy na DNV/GL – Business Assurance Brasil, conta como a colaboração entre as IACs foi importante para vencer o desafio de divulgar a acreditação pelo Brasil: “No início, ainda não existiam serviços de saúde acreditados. Assim, foram anos de divulgação do processo de acreditação”, recorda.

A ONA reunia as IACs em encontros periódicos e itinerantes pelo Brasil, na sede de cada certificadora. Nas reuniões – que perduram até hoje – discutia-se como incentivar a acreditação e aprimorar os requisitos do manual de acreditação. “Foram momentos difíceis, pois as certificações eram muito raras. Mas o idealismo de todos os membros das IACs e da direção da ONA foi fundamental para a continuidade das acreditações”, rememora Marzano.

Antes de começar o trabalho junto à ONA, no ano 2000, o IQG concentrava sua atuação na promoção da gestão de qualidade nos serviços de saúde. “Antes da ONA, não falávamos de acreditação”, recorda Rubens Covello, presidente do instituto. Com a parceria, logo vieram os primeiros hospitais acreditados, o Santa Paula (SP) e o hospital da Unimed Fortaleza (CE).

Ao longo dos 20 anos, a ONA foi incorporando critérios para admissão de empresas avaliadoras. Essa foi uma das razões pelas quais o número de empresas certificadoras oscilou no período, mas sem ultrapassar 10 avaliadoras. Nesse tempo, algumas se uniram, como é o caso da DNV, que chegou a trabalhar separada da GL até a aliança global de ambas em 2013.

A British Standards Institute (BSI) e o Sistema Nacional de Acreditação (DIQC) atuaram como certificadoras ONA até 2012 e 2014, respectivamente.

Em dezembro de 2012, o Instituto Brasileiro para Excelência em Saúde (IBES) foi credenciado pela ONA e passou a integrar o time das IACs. A empresa formada por Vivian Giudice, Aléxia Costa e Vanice Costa foi criada justamente para atender o processo de acreditação da ONA. “Soubemos do processo para as certificadoras, nos candidatamos e, em dezembro de 2012, inauguramos o IBES”, recorda Vivian Giudice, diretora executiva e fundadora do IBES.

Atualmente, Fundação Vanzolini, IAHCS, IPASS, Det Norske Veritas Germanischer Lloyds (DNV/GL), IQG e IBES são as certificadoras da ONA. Somadas, as seis foram responsáveis pelas 800 acreditações vigentes até o lançamento deste livro.
Para Luiz Otávio Fernandes de Andrade, que atuou como vice-presidente do Conselho de Administração da ONA entre 2006 e 2014, o trabalho das IACs foi importante tanto para a evolução da metodologia como na expansão de serviços de saúde certificados. “O crescimento e, especialmente, o desenvolvimento de processos de auditoria consistentes e bem executados colaboraram muito para o ganho de credibilidade da metodologia ONA de acreditação”, avalia.

¹ IAHCS.Histórico. Disponível em <http://www.iahcs.org.br/site/pagina.php?id=8>.

REUNIÃO DE REPRESENTANTES DAS IACS COM A ONA EM 2002:
1 – Mara Machado (IQG)
2 – Jaqueline Gonçalves (ONA)
3 – Ivete Wazur (IPASS)
4 – Paulo Maia (ONA)
5 – Juliana Carrijo (Anvisa)
6 – Luiz Marzano (DNV)
7 – Lourival Piovejan (GL)
8 – Péricles Cruz (ONA)
9 – Osnir Simonato (FCAV)
10 – Sérgio Ruffini (IAHCS)
11 – Rubens Covello (IQG)

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