Vinte anos depois de 1º de junho de 1999, quando a ONA foi fundada, o setor de saúde ainda tem inúmeros desafios pela frente. No entanto, ao longo desses anos, diversos fatores atuaram para tornar a assistência à saúde no Brasil mais segura. Ao lado da difusão da acreditação, é possível citar a atuação da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) e da Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa), a influência das movimentações e transações entre os players, inclusive internacionais, e o amadurecimento da gestão no setor.
A ONA contribuiu para a construção dessa história. Na opinião de Ana Maria Malik, professora da Fundação Getulio Vargas, o legado da entidade foi levar a avaliação de serviços de saúde para além do hospital. “Ela introduziu com mais ênfase a avaliação externa em serviços de saúde e considerou diferentes tipos de serviço”, comenta.
Para Sérgio Ruffini, coordenador do Instituto de Administração Hospitalar e Ciências da Saúde (IAHCS), o legado da ONA está em “puxar” as instituições em direção ao aprimoramento da gestão de qualidade e da gestão de risco por meio das atualizações das publicações. “Justamente por estabelecer em seus manuais requisitos cada vez mais exigentes em relação à segurança do paciente, a ONA ‘obriga’ as instituições a aprender”, analisa.
Sem dúvida, a contribuição para a educação do setor de saúde foi um dos principais legados da entidade. E isso também ocorreu de forma vanguardista: a ONA investiu em educação a distância baseada na web em uma época em que a modalidade era pouco utilizada pelos brasileiros.
Além dos convênios firmados entre ONA e Anvisa, que deram origem aos manuais de acreditação de diversos serviços de saúde (confira o capítulo 2 deste livro), foram firmadas parcerias entre as entidades com foco em treinamento e capacitação. Para dar vazão aos inúmeros profissionais que precisavam ser treinados Brasil afora, o pouco conhecido ensino a distância foi providencial.
“A ONA foi uma das primeiras instituições de saúde que apostou em educação a distância apoiada pela web. Usamos intensivamente a educação a distância para capacitar profissionais de saúde das vigilâncias sanitárias municipais e estaduais e também para a formação de avaliadores”, conta Fábio Gastal, que na época atuava como superintendente da organização.
Assim, nascia o ONA Educare, programa de educação a distância baseado na web, com conteúdo sobre conceitos de qualidade, análise e avaliação para a acreditação, utilizando os critérios baseados na metodologia ONA.
“O objetivo era a divulgação do modelo de avaliação da qualidade e da acreditação e a formação do maior número possível de profissionais atuantes na assistência e na gestão do setor saúde”, recorda Ione Fuhrmeister Roessler, que foi coordenadora, supervisora pedagógica e coautora do Programa de Cursos de Ensino a Distância via Internet da ONA entre 2002 e 2013.
Desde o início, a metodologia utilizada considerava não apenas o conteúdo dos cursos, como também proporcionava o debate dos assuntos entre os integrantes em comunidades virtuais, o que oferecia a possibilidade da construção coletiva do aprendizado.
Para tornar tudo isso possível, a ONA precisava de um parceiro na área de tecnologia. A escolhida foi a Gestum, empresa especializada em educação a distância que personalizou a plataforma para atender às necessidades do programa da entidade e torná-la aderente ao público – um grande desafio para o período.
“Na época, a ONA foi pioneira, pois a capacitação on-line era muito baixa”, relembra César Braga, que na época era CEO da Gestum. Ele também destaca o ineditismo na criação da loja virtual. “Nós desenvolvemos a parte de e-commerce, o que também era algo muito inovador para a época. Era possível automatizar todo o processo: as pessoas compravam o curso diretamente no portal, realizavam o curso e depois recebiam o certificado digitalizado”, acrescenta.
A parceria entre os times da ONA e da Gestum foi fundamental para superar os obstáculos na construção da plataforma do programa de educação a distância. Desde seu início, o ONA Educare já capacitou mais de 35 mil alunos. Só em 2018, foram 1.823 profissionais formados pelo programa.
Discussões sobre o futuro
Péricles Góes da Cruz, superintendente técnico da ONA, acredita que as certificações continuarão a crescer, pois, mesmo com a crise econômica no país nos últimos três anos, o número de certificações continuou aumentando – inclusive a quantidade de primeiras certificações conquistadas.
Para Luiz Otávio Fernandes de Andrade, vice-presidente da ONA entre 2006 e 2014, a tendência é que o assunto continue na pauta do setor, inclusive pela discussão acerca de novos modelos de remuneração. “Os modelos passam obrigatoriamente pelo compartilhamento de risco entre fontes pagadoras e prestadoras. Isso exigirá dos prestadores cada vez mais eficiência em gestão administrativa e assistencial. As certificações são um direcionamento sobre como adotar as melhores práticas para atingir esse objetivo”, analisa.