70% das mortes por infecções associadas à assistência hospitalar poderiam ser evitadas
Em média, mais de 45 mil pessoas morrem anualmente devido a infecções adquiridas em hospitais. Os facilities managers, junto a equipe multiprofissional, desempenham um papel importante na prevenção dessas infecções, atuando nas áreas de apoio e em toda a complexa infraestrutura hospitalar para promover um ambiente seguro.
São Paulo, julho de 2024 - Dados divulgados pela
Associação Médica Brasileira revelam que mais de 45 mil brasileiros morrem
anualmente devido a infecções hospitalares. De acordo com o CDC (Centros de
Prevenção e Controle de Doenças dos Estados Unidos), as infecções hospitalares
representam até 10 bilhões de dólares anuais em despesas com saúde.
Marcelo Boeger, consultor na
Hospitalidade Consultoria e diretor dos Comitês da ABRAFAC (Associação
Brasileira de Property, Workplace e Facility Management), destaca a gravidade
dessas estatísticas: "Temos que atuar de forma incansável, os pacientes
que adquirem infecções hospitalares ficam, em média, 6,5 dias adicionais no
hospital, têm cinco vezes mais chances de serem reinternados após a alta e
apresentam o dobro de probabilidade de morrer."
Além do contato direto dos
profissionais de saúde com os pacientes, diversos aspectos dos serviços de
hotelaria e facilities influenciam os índices de infecção. Isso inclui a
higiene e desinfecção de superfícies, o manuseio de alimentos, a gestão do
enxoval e a qualidade do ar ambiente.
A infraestrutura hospitalar
abrange processos críticos que exigem atenção do gestor, como o transporte
vertical de materiais contaminados por elevadores ou monta-cargas, como roupa
suja e resíduos infectantes. É essencial evitar o transporte simultâneo de
pacientes, mesmo quando estes estão ensacados e acondicionados em carros
fechados. Além disso, a falta de manutenção preventiva em sistemas como
ar-condicionado, ralos e abastecimento de água representa riscos
significativos.
Para minimizar e prevenir a
contaminação, é fundamental garantir que o cronograma de limpeza em higiene
predial seja rigorosamente seguido, assegurando a eficácia na redução da
transmissão de microrganismos. Isso inclui a verificação para garantir que nenhuma
área ou item seja negligenciado pelas equipes.
Na área de alimentação, todos
os colaboradores, desde os cozinheiros até as copeiras que distribuem alimentos
diretamente aos pacientes nos leitos, devem lavar as mãos antes de manipular
alimentos. Além disso, é fundamental higienizar as embalagens antes do uso e
garantir que matérias-primas, ingredientes e alimentos preparados sejam
refrigerados, identificados, protegidos e armazenados adequadamente, conforme
suas características e requisitos de temperatura.
Principais desafios enfrentados
pelos gestores de facilities
- "Em grande parte, a manutenção das estruturas físicas afeta os serviços
de forma abrangente. No entanto, a falta de processos para garantia de
qualidade dos serviços também deve ser considerada", alerta Marcelo.
Recentemente, a ABRAFAC –– que
teve a colaboração da ONA – Organização Nacional de Acreditação – realizou uma
pesquisa com várias instituições de saúde. A pesquisa na integra pode ser
acessada pelo link: https://abrafac.org.br/impacto-do-fm-nas-certificacoes-em-instituicoes-de-saude/
Segundo o estudo, 76% dos
gestores hospitalares consideram que a manutenção predial e infraestrutura
ainda são grandes desafios, oferecendo muitas oportunidades de melhoria.
Notavelmente, há uma necessidade significativa de aprimorar a documentação de
processos, procedimentos e gestão de planos operacionais, especialmente nas
áreas de Higiene Predial, Gerenciamento de Resíduos Sólidos, Rouparia e
Lavanderia.
Desperdícios nas áreas de facilities
- A falta
de uma estrutura organizada resulta em desperdícios significativos em diversas
áreas: leitos ficam indisponíveis devido à gestão deficiente de interdição e
manutenção; equipamentos parados prejudicam a produtividade e causam
represamento de leitos, afetando o fluxo de pacientes; equipes lidam com
retrabalho e aplicam técnicas inadequadas, entre outros problemas.
Um dos maiores desperdícios
ocorre no tempo perdido durante a movimentação de pacientes devido a falhas no
sistema de transporte entre unidades. Marcelo Boeger, explicando essa questão,
afirma: "Por exemplo, quando o mesmo maqueiro que faz o transporte no
pronto-socorro também é responsável por transferir pacientes da UTI para outras
unidades, qualquer atraso na organização dessas atividades pode resultar em
pacientes represados e desperdícios em várias partes do sistema de saúde."
Além disso, o absenteísmo
representa outro tipo significativo de desperdício. Segundo uma pesquisa
recente apresentada pela doutora Elizabeth Reis (IQG) no Congresso de Hotelaria
e Facilities da Feira Hospitalar, "a perda de produtividade devido ao
absenteísmo nessa área chega a quase 17%, o que representa desperdícios
sistêmicos significativos para toda a instituição.
Acreditação x Desperdício e
altos custos -
A acreditação desempenha um papel fundamental na redução de custos e
desperdícios de tempo nas instituições de saúde. A variabilidade na execução
das tarefas sem padronização aumenta a pressão na entrega dos serviços e pode
causar confusão entre equipes e clientes, já que os resultados frequentemente
dependem das habilidades individuais dos executores, não de um plano de
trabalho estruturado.
Segundo Boeger, "quando os
serviços de hotelaria e facilities estão integrados de forma eficiente
ao fluxo de trabalho da unidade, podemos alcançar melhorias significativas de
30% a 40%. O tempo entre a saída de um paciente e a entrada de outro no mesmo
leito pode variar de menos de duas horas a mais de seis horas, dependendo da
eficiência dos processos dentro do desenho de serviços."
Este cenário se repete,
principalmente, nas instituições que não dispõem de procedimentos. A pesquisa
revela que 53% dos gestores das instituições não possuem acreditação. Vários
obstáculos ainda impedem a obtenção da acreditação: 44% citam o custo elevado;
26% a falta de infraestrutura adequada; 24% o desinteresse da instituição; e
19% a falta de uma equipe capacitada e/ou o desconhecimento da existência de
certificações específicas para esta área.
Para Gilvane
Lolato, gerente de Operações da ONA, muitas organizações não conseguem atender
às legislações básicas e obrigatórias. “Há problemas graves de estrutura física
que impactam na segurança do paciente, como Unidades de Terapia Intensiva com
dimensionamento inadequado de leitos, Centros Cirúrgicos com áreas físicas
inadequadas, Centrais de Material Esterilizado sem separação adequada entre
área suja e limpa, e equipamentos sem condições de calibração e manutenção”.
Esses problemas são levados em consideração durante o processo de acreditação.
Gilvane enfatiza que, quando a metodologia da ONA é aplicada e precisa avaliar
o atendimento aos padrões, fica evidente que a acreditação pode parecer cara
devido a esses problemas estruturais e de conformidade.
Sobre a
ONA - A Organização Nacional de Acreditação (ONA) certifica
a qualidade de serviços de saúde no Brasil, tendo como foco principal a
segurança do paciente. Sua metodologia de avaliação atende a padrões
internacionais de qualidade e segurança. O Manual de Acreditação ONA é
reconhecido pela ISQua (Sociedade Internacional pela Qualidade no Cuidado à
Saúde, na sigla em inglês), instituição parceira da Organização Mundial da
Saúde (OMS) e que tem entre seus membros especialistas e organizações de saúde
de mais de 100 países. www.ona.org.br
Sobre a ABRAFAC - A
ABRAFAC (Associação Brasileira de Property, Workplace e Facility Management) – www.abrafac.org.br é
referência brasileira no setor. Fundada em 2004, promove o networking
entre profissionais, empresas e agentes públicos a fim de desenvolver o
mercado. Estratégica, a entidade tem papel decisivo na capacitação continuada
de profissionais, multiplicação de conhecimento e adoção das melhores práticas
alinhadas à série de normas NBR ISO 41.000. Através de eventos como Congresso
ABRAFAC, Expo FM, Prêmio Melhores do Ano, debates, Comitês Técnicos, publicação
e a Certificação Profissional C.11FM ABRAFAC, a associação cumpre seu
papel de desenvolver o ecossistema brasileiro de Facility Management.