Cuidado humanizado e escuta ativa: uma solução eficaz para reduzir erros médicos e salvar vidas
Arquivo: Hospital Pequeno Príncipe (PR) – Humanizar é necessário
Anualmente, cerca de 2,6
milhões de pessoas perdem a vida devido a cuidados inseguros e à falta de
humanização em hospitais, gerando um custo estimado de até US 2 trilhões de
dólares.
São Paulo, janeiro de
2025
– A simples ação de ouvir atentamente o paciente pode prevenir milhões de
mortes no mundo. Segundo o Plano de Ação Global para a Segurança do Paciente
2021-2030 da Organização Mundial da Saúde (OMS), estima-se que 1 em cada 10
pacientes em países de alta renda é afetado por eventos adversos durante sua
estadia hospitalar. Em nações de baixa e média renda, 134 milhões de eventos
adversos resultantes de cuidados inseguros ocorrem anualmente, provocando cerca
de 2,6 milhões de mortes. Até 12% destes eventos levam à incapacidade
permanente ou à morte, com um impacto financeiro que pode chegar a 2 trilhões
de dólares por ano.
Os erros de
diagnóstico são responsáveis por quase 16% dos danos evitáveis nos sistemas de
saúde, segundo a OMS. No Brasil, o Anuário de Segurança Assistencial
Hospitalar, do Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS), revela que
cinco pessoas morrem por minuto no país devido a erros médicos – totalizando
quase 55 mil mortes anuais.
"Sabemos que a
segurança do paciente é um dos pilares fundamentais da qualidade na assistência
à saúde. No entanto, muitas vezes, negligenciamos um elemento essencial desse
processo: a escuta ativa e o cuidado humanizado. A simples ação de ouvir o paciente
com atenção pode reduzir eventos adversos e salvar vidas”, relata Gilvane
Lolato, gerente geral de Operações da ONA - Organização Nacional de
Acreditação.
Segurança do paciente em foco – Um número
crescente de instituições de saúde tem adotado o conceito de atendimento
humanizado, focado em colocar o paciente no centro dos cuidados, com respeito,
empatia e atenção individualizada. Ainda assim, o caminho é longo.
Atualmente, a
interação entre médicos e pacientes nas instituições de saúde é muitas vezes
superficial. Muitos pacientes relatam consultas rápidas, sem exame clínico
completo e com pouco ou nenhum contato visual.
Por que o cuidado humanizado é essencial?
– Ouvir o paciente com atenção é uma prática que visa reduzir os erros médicos.
A comunicação eficaz entre a equipe médica e o paciente é essencial para
assegurar que nenhuma informação importante seja omitida ou mal interpretada. O
atendimento humanizado incentiva uma comunicação clara e transparente,
minimizando os riscos de erros no diagnóstico e na administração de
medicamentos.
Além disso, um
atendimento empático contribui para redução do medo e da ansiedade, promovendo
uma recuperação mais rápida e eficaz. Quando o paciente se sente ouvido e
cuidado, a confiança no tratamento é fortalecida e, consequentemente os
resultados clínicos melhoram.
Por outro lado, a
falta de comunicação adequada pode gerar frustrações, que muitas vezes resultam
em conflitos ou até em episódios de violência. A escuta ativa, aliada a
explicações clara, pode prevenir problemas, proporcionando uma experiência
humana, positiva e segura pra todos os envolvidos.
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Exemplo de sucesso na
humanização na saúde -
Fundado em 1919, o Hospital Pequeno Príncipe,
localizado em Curitiba (PR), é um dos maiores exemplos de humanização a serem
seguidos por instituições de saúde em todo o Brasil. Trata-se de uma
instituição filantrópica, mantida pela Associação Hospitalar de Proteção à Infância Dr. Raul Carneiro,
e
faz parte de um complexo que inclui também as Faculdades Pequeno Príncipe
e
o Instituto de Pesquisa
Pelé Pequeno Príncipe. Em 2024, o hospital foi eleito,
pela quarta vez consecutiva, como um dos melhores do mundo na área pediátrica,
de acordo com a revista norte-americana Newsweek. A instituição, que conta com 369
leitos, também é acreditada com excelência pela ONA.
O hospital destina
cerca de 60% de sua capacidade ao Sistema Único de Saúde (SUS), enquanto 37%
são reservados para convênios e 1% para atendimentos particulares. Anualmente,
a instituição realiza mais de 228 mil atendimentos ambulatoriais, 20 mil internações
e 20 mil cirurgias. Além disso, através do cuidado humanizado, o hospital
prestou suporte a 104 família de pacientes, garantindo acolhimento durante o
período de internação.
Humanização Pioneira - Mesmo antes da
criação de leis específicas sobre humanização hospitalar, o Hospital Pequeno Príncipe
já praticava a garantia dos direitos das crianças e adolescentes. Na década de 1980,
o hospital implantou a presença familiar durante a hospitalização e criou um
programa educacional para crianças internadas.
O processo de
humanização ganhou ainda mais força na década de 1990, com a sistematização do
Programa Família Participante. A implementação desse programa gerou resultados
notáveis, como a redução do tempo de internação em 50%. Outros benefícios
significativos incluem o impacto emocional positivo nas crianças, que aceitam
melhor os tratamentos quando acompanhadas pelos pais. Já as famílias, ao se
sentirem mais acolhidas, tornam-se parceiras ativas no processo de cura.
Com o sucesso do
programa, a dinâmica hospital mudou: a assistência deixou de ser centrada
exclusivamente nos médicos e enfermeiros e passou a integrar um trinômio
essencial e indissociável: família, paciente e equipe de saúde.
“O Pequeno Príncipe
está comprometido com a promoção dos direitos da criança e do adolescente para
além da saúde, e isso é desafiador do ponto de vista econômico-financeiro para
as instituições filantrópicas. Mas nos esforçamos para oferecer esse cuidado
ampliado porque acreditamos que direitos não são privilégios. Toda criança
merece e tem o direito de ser cuidada. A humanização no ambiente hospitalar é
essencial para um cuidado integral e de qualidade. Ela vai além do atendimento
médico, incorporando a resolutividade, a expertise e o acolhimento de forma
multidisciplinar”, enfatiza Ety Cristina Forte Carneiro, diretora executiva do
Hospital Pequeno Príncipe.
Congresso sobre atendimento humanizado
– De 12 a 15 de outubro, a cidade de São Paulo sediará a 41ª Conferência
Internacional da ISQua (International Society For Quality in Health Care), no
World Trade Center. O evento, organizado pela ONA (Organização Nacional de
Acreditação), reunirá mais de 1.500 participantes de 80 países e contará com
mais de 400 palestrantes. O tema central será "Sistemas de saúde
inclusivos enfrentando desafios com tecnologia e humanidade". As palestras
abordarão tópicos como segurança do paciente, inovação digital na saúde,
coprodução de cuidados centrados no paciente, sustentabilidade e muito mais. www.ona.org.br