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31/01/2025

Cuidado humanizado e escuta ativa: uma solução eficaz para reduzir erros médicos e salvar vidas


Arquivo: Hospital Pequeno Príncipe (PR) – Humanizar é necessário


Anualmente, cerca de 2,6 milhões de pessoas perdem a vida devido a cuidados inseguros e à falta de humanização em hospitais, gerando um custo estimado de até US 2 trilhões de dólares.

São Paulo, janeiro de 2025 – A simples ação de ouvir atentamente o paciente pode prevenir milhões de mortes no mundo. Segundo o Plano de Ação Global para a Segurança do Paciente 2021-2030 da Organização Mundial da Saúde (OMS), estima-se que 1 em cada 10 pacientes em países de alta renda é afetado por eventos adversos durante sua estadia hospitalar. Em nações de baixa e média renda, 134 milhões de eventos adversos resultantes de cuidados inseguros ocorrem anualmente, provocando cerca de 2,6 milhões de mortes. Até 12% destes eventos levam à incapacidade permanente ou à morte, com um impacto financeiro que pode chegar a 2 trilhões de dólares por ano.

Os erros de diagnóstico são responsáveis por quase 16% dos danos evitáveis nos sistemas de saúde, segundo a OMS. No Brasil, o Anuário de Segurança Assistencial Hospitalar, do Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS), revela que cinco pessoas morrem por minuto no país devido a erros médicos – totalizando quase 55 mil mortes anuais.

"Sabemos que a segurança do paciente é um dos pilares fundamentais da qualidade na assistência à saúde. No entanto, muitas vezes, negligenciamos um elemento essencial desse processo: a escuta ativa e o cuidado humanizado. A simples ação de ouvir o paciente com atenção pode reduzir eventos adversos e salvar vidas”, relata Gilvane Lolato, gerente geral de Operações da ONA - Organização Nacional de Acreditação.

Segurança do paciente em foco – Um número crescente de instituições de saúde tem adotado o conceito de atendimento humanizado, focado em colocar o paciente no centro dos cuidados, com respeito, empatia e atenção individualizada. Ainda assim, o caminho é longo.

Atualmente, a interação entre médicos e pacientes nas instituições de saúde é muitas vezes superficial. Muitos pacientes relatam consultas rápidas, sem exame clínico completo e com pouco ou nenhum contato visual.

Por que o cuidado humanizado é essencial? – Ouvir o paciente com atenção é uma prática que visa reduzir os erros médicos. A comunicação eficaz entre a equipe médica e o paciente é essencial para assegurar que nenhuma informação importante seja omitida ou mal interpretada. O atendimento humanizado incentiva uma comunicação clara e transparente, minimizando os riscos de erros no diagnóstico e na administração de medicamentos.

Além disso, um atendimento empático contribui para redução do medo e da ansiedade, promovendo uma recuperação mais rápida e eficaz. Quando o paciente se sente ouvido e cuidado, a confiança no tratamento é fortalecida e, consequentemente os resultados clínicos melhoram.

Por outro lado, a falta de comunicação adequada pode gerar frustrações, que muitas vezes resultam em conflitos ou até em episódios de violência. A escuta ativa, aliada a explicações clara, pode prevenir problemas, proporcionando uma experiência humana, positiva e segura pra todos os envolvidos.

 

Hospital Pequeno Príncipe (Curitiba-PR)

 

Exemplo de sucesso na humanização na saúde -  Fundado em 1919, o Hospital Pequeno Príncipe, localizado em Curitiba (PR), é um dos maiores exemplos de humanização a serem seguidos por instituições de saúde em todo o Brasil. Trata-se de uma instituição filantrópica, mantida pela Associação Hospitalar de Proteção à Infância Dr. Raul Carneiro, e faz parte de um complexo que inclui também as Faculdades Pequeno Príncipe e o Instituto de Pesquisa Pelé Pequeno Príncipe. Em 2024, o hospital foi eleito, pela quarta vez consecutiva, como um dos melhores do mundo na área pediátrica, de acordo com a revista norte-americana Newsweek. A instituição, que conta com 369 leitos, também é acreditada com excelência pela ONA.

O hospital destina cerca de 60% de sua capacidade ao Sistema Único de Saúde (SUS), enquanto 37% são reservados para convênios e 1% para atendimentos particulares. Anualmente, a instituição realiza mais de 228 mil atendimentos ambulatoriais, 20 mil internações e 20 mil cirurgias. Além disso, através do cuidado humanizado, o hospital prestou suporte a 104 família de pacientes, garantindo acolhimento durante o período de internação.

Humanização Pioneira - Mesmo antes da criação de leis específicas sobre humanização hospitalar, o Hospital Pequeno Príncipe já praticava a garantia dos direitos das crianças e adolescentes. Na década de 1980, o hospital implantou a presença familiar durante a hospitalização e criou um programa educacional para crianças internadas.

O processo de humanização ganhou ainda mais força na década de 1990, com a sistematização do Programa Família Participante. A implementação desse programa gerou resultados notáveis, como a redução do tempo de internação em 50%. Outros benefícios significativos incluem o impacto emocional positivo nas crianças, que aceitam melhor os tratamentos quando acompanhadas pelos pais. Já as famílias, ao se sentirem mais acolhidas, tornam-se parceiras ativas no processo de cura.

Com o sucesso do programa, a dinâmica hospital mudou: a assistência deixou de ser centrada exclusivamente nos médicos e enfermeiros e passou a integrar um trinômio essencial e indissociável: família, paciente e equipe de saúde.

“O Pequeno Príncipe está comprometido com a promoção dos direitos da criança e do adolescente para além da saúde, e isso é desafiador do ponto de vista econômico-financeiro para as instituições filantrópicas. Mas nos esforçamos para oferecer esse cuidado ampliado porque acreditamos que direitos não são privilégios. Toda criança merece e tem o direito de ser cuidada. A humanização no ambiente hospitalar é essencial para um cuidado integral e de qualidade. Ela vai além do atendimento médico, incorporando a resolutividade, a expertise e o acolhimento de forma multidisciplinar”, enfatiza Ety Cristina Forte Carneiro, diretora executiva do Hospital Pequeno Príncipe.

Congresso sobre atendimento humanizado – De 12 a 15 de outubro, a cidade de São Paulo sediará a 41ª Conferência Internacional da ISQua (International Society For Quality in Health Care), no World Trade Center. O evento, organizado pela ONA (Organização Nacional de Acreditação), reunirá mais de 1.500 participantes de 80 países e contará com mais de 400 palestrantes. O tema central será "Sistemas de saúde inclusivos enfrentando desafios com tecnologia e humanidade". As palestras abordarão tópicos como segurança do paciente, inovação digital na saúde, coprodução de cuidados centrados no paciente, sustentabilidade e muito mais. www.ona.org.br