Segurança do paciente: direito e dever de todos
Educação e envolvimento da sociedade é a principal ferramenta nesse caminho
A notícia sobre o terrível incêndio
que ocorreu em um hospital no Rio de Janeiro, vitimando 11 pacientes, levantou
um importante questionamento em toda a sociedade. Afinal, até que ponto um
paciente está seguro em uma instituição de saúde?
O termo “segurança do paciente” pode
ser pouco conhecido pela população, mas é sempre possível notar quando algo não
está bem. A forma como você é atendido em um hospital, por exemplo, fala muito
sobre a organização daquele lugar.
Observe as relações entre os profissionais
de saúde e com você. O médico o envolve no processo de tomada de decisão? Você
entende, de fato, o que ele explicou sobre o seu diagnóstico e tratamento?
Antes de disponibilizar algum medicamento, o enfermeiro diz a você ou ao seu
acompanhante qual “remédio” é aquele?
A segurança do paciente se torna
possível por causa desses e de tantos outros processos, que incluem as formas
como as pessoas trabalham e a infraestrutura do lugar. É preciso adotar uma
série de ações para diminuir o risco de que algo de errado aconteça. Se não há
estratégias e métodos que sirvam como barreiras contra os erros, colocamos os
pacientes em risco
Por isso, o cuidado com a segurança precisa
ocorrer a todo momento. Não se trata de um esforço pontual ou de uma lista de
melhorias que serão conquistadas uma vez e que nunca mais serão vistas. A
verdadeira segurança do paciente exige constante vigilância. E mesmo atenta a isso,
uma instituição sempre corre o risco de falhar.
Hoje, no Brasil, menos de 5% dos
hospitais comprovadamente seguem padrões internacionalmente conhecidos de
qualidade e segurança do paciente. Se a saúde é um direito de todos, a
segurança do paciente não pode ser um privilégio para poucos.
Para que isso se torne verdade, é
preciso unir a todos – pacientes e familiares, gestores, profissionais de
saúde, governos, planos de saúde, universidades, indústria, sociedade civil.
Cada um tem o seu papel nesse caminho. Todos nós podemos nos tornar
multiplicadores e agentes ativos na criação de uma assistência mais segura.
Em mais de 20 anos de luta pelos
padrões de segurança na saúde, na Organização Nacional de Acreditação. aprendi
que a educação e a informação são as duas principais armas para esse objetivo.
Com isso, desenvolvemos instituições de saúde mais preparadas, profissionais
mais capacitados e pacientes atentos e participativos.
Precisamos falar sobre segurança no
Dia Internacional da Segurança do Paciente e em todos os dias, de todas as
formas e em todos os lugares. Quanto mais falarmos e aprendermos sobre isso, menores
serão os desperdícios no sistema de saúde, mais profissionais terão condições
de trabalho adequadas e, principalmente, mais vidas serão salvas.
Cláudio Allgayer, Médico
Presidente da Organização Nacional de
Acreditação (ONA)
Vice-presidente da Confederação Nacional de
Saúde (CNSaúde)