Selos de acreditação na saúde: conheça os principais e saiba como conquistá-los
Entenda como o processo de acreditação fortalece a segurança e a qualidade nas instituições de saúde, promovendo melhorias contínuas e padronizando o atendimento com base em normas reconhecidas no Brasil e no mundo.
Cristina
Balerini - Especial para o Saúde Business | 14 Out, 2024
A melhoria contínua no atendimento e nos processos
hospitalares tem sido uma prioridade fundamental para instituições de
saúde. Em um cenário cada vez mais competitivo e regulado, as instituições
que buscam conquistar acreditações hospitalares encontram não apenas um
diferencial de mercado, mas uma ferramenta poderosa para estar se
aperfeiçoando. A certificação por organismos acreditadores reconhecidos é um
selo de garantia que reflete a segurança, a eficiência e a qualidade dos
serviços prestados.
A acreditação é um método de avaliação e certificação que
busca, por meio de padrões e requisitos previamente definidos, promover a
qualidade e a segurança da assistência no setor de saúde. Para ser acreditada,
a organização precisa comprovadamente atender aos padrões definidos pelo
organismo acreditador.
O passo a passo da acreditação
Como a acreditação no Brasil é voluntária, o primeiro passo
para a instituição que deseja obtê-la é entender o seu propósito e iniciar um
planejamento para implementação.
A ONA, por exemplo, oferece um diagnóstico organizacional
por meio do qual a organização tem a oportunidade de receber uma avaliação
inicial e compreender de forma objetiva e clara o que deverá priorizar.
“Uma vez que a organização soluciona os achados do
diagnóstico, ela está preparada para receber uma avaliação para acreditação.
Vale ressaltar que o diagnóstico é facultativo, portanto, se uma organização
está preparada, pode fazer diretamente a avaliação para acreditação”, explica
Gilvana Lolato, gerente de Operações da ONA.
De acordo com as características da empresa, haverá um plano
de visita sinalizando cada área que será visitada pela equipe de avaliadores. O
foco dessa equipe é buscar evidências objetivas que demonstram o atendimento ao
padrão estabelecido na metodologia ONA.
“Após a avaliação, a equipe de avaliadores preparará um
relatório que será avaliado por partes envolvidas no processo, inclusive a ONA,
até a validação final e homologação da acreditação”, diz Gilvana.
A duração de todo o processo até o recebimento da
certificação depende da maturidade da instituição, cultura organizacional,
modelo de gestão bem definido e processos padronizados, disponibilidade de
orçamento e priorização para ajustar itens estruturais que forem
necessários, equipe qualificada e dedicada para coordenar as ações de
melhoria para cumprimento dos padrões, entre outros requisitos. Ao todo,
estima-se que o processo leve cerca de seis meses a dois anos (tempo este
semelhante em todas as instituições acreditadoras).
O processo de acreditação ONA envolve três níveis de
avaliação.
- Nível
1: acreditado. Nessa etapa é dada ênfase na segurança do paciente, sendo
indispensável que a estrutura física seja apropriada para a realização das
atividades;
- Nível
2: acreditado pleno. Nesta etapa é analisado se o processo de atendimento
médico mantém um bom desempenho por meio do foco na gestão integrada;
- Nível
3: acreditado com excelência. É requisito dessa modalidade que existam
provas do uso da tecnologia da informação em benefício da segurança dos
pacientes.
A Quality Global Alliance (QGA), que utiliza a
metodologia Qmentum para avaliação, também oferece um diagnóstico
organizacional que aponta os pontos de riscos que devem ser gerenciados pela
instituição. “Logo após essa etapa, realizamos uma palestra na empresa com o
intuito de explicarmos a todos os colaboradores da instituição como é o
processo, demonstrando que a acreditação é uma ferramenta de melhoria contínua
e não uma meta de certificação”, explica Rubens Covello, CEO da QGA.
Dados esses passos iniciais, a instituição recebe um
especialista que irá ficar à sua disposição durante todo o processo. Somado a
isso, segundo o executivo, a QGA associa um projeto de cocriação onde, a cada
três meses, dois auditores visitam a instituição e ajudam no processo de
acreditação, cocriando junto com os profissionais de qualidade e gestão da
unidade o desenho para garantir excelência e a segurança do paciente.
“Após a cocriação, realizamos uma visita de ‘Mock Survey’
(pré-acreditação) para entendermos se a instituição está pronta para a visita
final de acreditação.” A acreditação Qmentum também possui três níveis de
avaliação, assim como a ONA.
Outra metodologia de acreditação é a desenvolvida pela DNV
(Det Norske Veritas), o National Integrated Accreditation for Healthcare
Organizations (NIAHO). Eduardo Ramos Ferraz, auditor NIAHO, conta que,
diferentemente das outras normas internacionais, para acreditação NIAHO, o
pré-requisito é ser acreditado ONA nível 3.
“A DNV entende que a NIAHO seria uma etapa, um avanço para
as organizações que já atingiram o nível máximo de acreditação pela ONA. Nos
sistemas de gestão integrados, temos requisitos convergentes entre as duas
normas, mais os complementares, específicos da NIAHO, que trazem robustez para
os sistemas de gestão.”
A avaliação, feita por uma equipe composta de três
avaliadores, foca em três pilares considerados fundamentais na melhoria
das organizações.
- Generalista
- requisitos de sistemas de gestão da qualidade;
- Clínico
- foco assistencial e cuidados centrados no paciente – qualidade da
assistência;
- Ambiente
físico - inclui aspectos relacionados à segurança da estrutura.
Nenhuma instituição acreditadora no munedo
pode realizar consultorias, mentorias ou avaliações assistidas por
caracterizar conflito de interesse. “Podemos realizar treinamentos e avaliações
diagnósticas com o objetivo de auxiliar no entendimento dos requisitos, mas não
podemos realizar trabalhos consultivos, definindo modelos ou soluções. A
decisão de evoluir para uma implementação por conta própria ou contar com ajuda
de consultorias é decisão das organizações”, ressalta Ferraz.
Importância da acreditação para a melhoria contínua
Gilvana destaca que as acreditações desempenham um papel
importante, pois padronizam os processos. “Para hospitais e demais
organizações, é possível obter a redução dos custos operacionais; otimizar o
tempo de internação de acordo com a necessidade real do paciente; reduzir
reinternações desnecessárias, infecções hospitalares, falhas na manipulação das
medicações e na interpretação de exames; contribuir com a manutenção de
equipamentos com uma manutenção preventiva e de qualidade, além de propiciar
agilidade de diagnóstico e tratamento inicial para evitar custos elevados.”
Já Covello destaca ainda que o processo de acreditação faz
com que os atores do sistema de saúde possam trabalhar questões como governança
clínica, compliance, tomada de decisões baseadas em princípios éticos e uma
série de outras ferramentas para que as instituições melhorem a sua gestão.
Jornada rumo à acreditação: experiência de quem está se
preparando
A jornada da Santa Casa de Belo Horizonte rumo à acreditação
ONA teve início em 2022, com um projeto focado na acreditação nível 1. O
primeiro passo da alta direção foi estabelecer o licenciamento e a acreditação
como eixos estratégicos, fazendo com que seu planejamento estratégico 2021-2025
e plano de gestão contemplassem os objetivos e ações necessárias para
alcançá-los.
“Nesse primeiro movimento, promovemos treinamentos sobre a
temática de uma forma geral com ênfase na relevância do trabalho em equipe,
colaborativo, com foco. A partir daí, nos organizamos internamente,
principalmente na revisão de nossos processos e na nossa cadeia de valor,
estabelecemos os times temáticos e nos debruçamos nos treinamentos e estudos
dos requisitos, seções e subseções dos manuais e acreditação”, conta Luciana
Tameirão superintendente de Governança, Planejamento e Auditoria da instituição.
Em 2023, a Santa Casa passou por uma avaliação diagnóstica,
que apontou o cenário em relação ao atendimento aos requisitos da ONA. Foram
listados todos os apontamentos e estabelecidos planos de ação. “Em junho de
2024, com a finalidade de aumentarmos o engajamento dos líderes, gestores e
demais colaboradores da instituição, revisitamos nossos planos e prazos e
lançamos o ‘ONA Voice’, trazendo para esse movimento acreditação ONA a
criatividade e o divertimento. Além disso, nessa nova fase passamos a focar não
só nos requisitos nível 1, mas também nos de nível 2”, explica Luciana.
O projeto “ONA Voice” foi estruturado em dez etapas
estratégicas, chamadas de “batalhas”, cada uma delas inspirada nos desafios
encontrados no caminho para a acreditação. “Teremos ainda a revisão dos mapas
de risco; uma segunda auditoria diagnóstica; um 'ensaio final' com um divertido
jogo de perguntas e respostas sobre acreditação, e finalmente, seremos
submetidos à auditoria para acreditação.”
O caminho de quem já é certificado
A BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo possui a
certificação nível 3 da ONA, além de ser certificada pela JCI e possuir o nível
7 da HIMSS, entre outras. Renato José Vieira, diretor-executivo de
Desenvolvimento Médico, Técnico e de Educação e Pesquisa, diz que o processo
rumo à certificação teve como um dos desafios entender com profundidade os
padrões e as necessidades de mudança advindas da metodologia escolhida, que
podem ser alterações no atendimento ou na estrutura física, por exemplo.
“A partir daí, é construído um plano de qualidade e
segurança que irá contemplar essas ações e os respectivos investimentos. Uma
vez aprovado o plano, começa efetivamente o preparo para a acreditação, quando
são realizadas todas as adequações e treinamentos pertinentes dentro do
cronograma proposto.”
Na instituição, a área de qualidade e segurança lidera a
frente em busca da melhoria contínua, contando com consultores técnicos e
assessorias externas de forma pontual, a depender da acreditação em questão. “O
olhar de agentes externos é agregador em situações específicas e nos ajuda na
direção de melhorias contínuas”, acredita Vieira.
As certificações nacionais demoraram, em média, cerca de um
ano e meio para serem conquistadas. Nas internacionais, esse tempo foi de
dois a três anos, porque geralmente é preciso demonstrar um ciclo completo de
evidências de pelo menos um ano.
No Hospital Alemão Oswaldo Cruz, certificado pela JCI, o
preparo para a certificação envolveu ajustes significativos em processos
internos e infraestrutura. A preparação para a acreditação começou com a
conquista de uma certificação em qualidade, em 2005, e com aproximadamente dois
anos e meio de avaliação diagnóstica e de consultoria a primeira acreditação
foi conquistada em 2009.
“O grande aprendizado foi a conversão do olhar de todas as
áreas, sejam elas assistenciais ou de apoio, para os resultados em qualidade e
segurança do paciente”, avalia Haggeas da Silveira Fernandes, diretor executivo
médico do HAOC.
Além disso, o executivo destaca também a estruturação de
fluxos, processos e rotinas, com documentação institucional. “Esse é um passo
importante para que se possa instalar práticas de governança que caracterizam
as instituições com excelência nos serviços e segurança na operação.”
Fernandes pontua ainda que, para se chegar a uma
acreditação, é necessário investimento em todas as fases de preparação, além do
custo com consultorias e a própria visita de acreditação, cujos valores diferem
muito entre agências certificadoras.
No percurso de maturação institucional, a maioria das
instituições conta com o apoio de consultorias especializadas que auxiliam na
compreensão das exigências dos padrões e na discussão de peculiaridades e
caminhos a serem trilhados para o alcance das conformidades.
“Hoje, o Hospital Alemão Oswaldo Cruz já não conta mais com
consultoria para preparação, mas realiza a cada um ano e meio uma auditoria
educativa executada por uma empresa especializada em acreditação da JCI para
que tenhamos um olhar externo que nos ajuda no reconhecimento dos pontos a
serem melhorados e na organização de preparação para a reacreditação.”
Acreditação também na área diagnóstica
Outra experiência de acreditação é contada pela Dasa, que
possui os selos de acreditação da JCI, ONA e QGA, totalizando 13 hospitais
acreditados pelo Brasil. Na vertente de diagnósticos, a Dasa também é
acreditada pela ONA.
Leonardo Vedolin, vice-presidente da área médica, comenta
que o processo de acreditações é complexo, principalmente quando estão
relacionadas a órgãos internacionais, pois é necessário revisitar os processos
e avaliar se estão contemplados todos os pontos de qualidade de segurança,
assim como as melhores práticas.
“Outro ponto essencial é a documentação de todos os
processos, para que eles sejam cada vez menos dependentes de determinadas
pessoas, e mais dependentes do sistema e modelo de atuação em si. Investimos
constantemente na formação de auditores e consultorias para garantir a
manutenção das acreditações”, explica ele.
Vedolin conta que, em hospitais, a Dasa optou por não utilizar o apoio de consultoria externa para a maioria das certificações, exceto para a JCI, que conta com a assessoria do Consórcio Brasileiro de Acreditação. “Na área diagnóstica, tivemos consultoria para o selo de acreditação do QGA”, conta.
Fonte: https://www.saudebusiness.com/gestao/selos-de-acreditacao-na-saude-conheca-os-principais-e-saiba-como-conquista-los